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A MORTE DE UM HOMEM GENTIL

POR RANS SPECTRO
Guardador de carro conhecido como "Di Pimpão", encontrado morto na última quarta-feira em Ilhéus.
Morte do guardador de carro ilheense, conhecido como “Di Pimpão”,gerou grande comoção e revolta via redes sociais. Foto: Oyama Brugni.
Há poucos dias, em meio à ressaca festiva do Aleluia Festival e o feriado ilheense do Santo Guerreiro, veio a tona uma dessas notícias, que, aparentemente, seria apenas mais uma a relatar a morte de um desses “não indivíduos” que a sociedade costuma pouco se importar.
Sim, nela estavam presentes todos os ingredientes para culminar em um já esperado desfecho de impassibilidade: Homem negro, aparentemente assassinado, menos um pobre guardador de carros a atormentar as nossas egoísticas e gradativas insensibilidades.
Mas a vida nos guarda, as vezes, surpresas não só desagradáveis.
E, sinceramente, a repercussão e comoção da misteriosa morte do guardador de carro da Passarela do Álcool pontalense, com visíveis indícios de assassinato, me surpreendeu.
Sim, confesso, andava meio desiludido com uma sociedade que, em meio à mazelas que se sucedem embaixo dos seus narizes, parece se comover exclusivamente com o sofrimento idealizado e vomitado no formato cartase coletiva, em reality shows e programas jornalísticos de espetacularização da miséria alheia.
Mas dessa vez não foi assim.
A consternação e a revolta foram grandes, e repercutiram surpreendentemente vias redes sociais. Locais onde geralmente o não sentimento e as emoções plastificadas ganham proporções bem maiores do que deveriam ganhar.
Analisei as reações e, sinceramente, não percebi demonstrações falsas de pseudos sentimentos humanitários. Dessa vez, pelo menos dessa vez, as pessoas sentiram mesmo o bafo quente da violência e da, infelizmente, previsível injustiça, soprar em suas faces. Mostrando que bens de consumo reluzentes e ostentações sociais, de nada adiantam ante a imprevisibilidade e caoticidade do amanhã.
Mas por que isso? Mas por que logo com um cidadão desses que geralmente o medo e a desconfiança afugentam a grande maioria, perante qualquer possibilidade de convívio? Simples, porque do auge de sua humildade e suposta invisibilidade social, eram emanados sentimentos cada vez mais em desuso na contemporaneidade: A gentileza e a cordialidade no trato com o próximo.
Não estou falando em ser agradável e sentimental via meios digitais. E sim, na cada vez mais difícil missão de ser humano de fato, no teti à teti do convívio com as discrepâncias que pululam aos nossos sentidos.
Sim, o falecido guardador de carro Pimpão. Apenas mais um a se configurar agora como estatística negativa da violência urbana. Mas que, com a sua gentileza, fazia com que os olhares, outrora repulsivos, reconhecessem estar ali, a manifestação de algo que não cessa em surpreender e tocar até os mais gélidos corações: A riqueza, sem necessariamente possuir ou almejar posses e bens materiais.
Good night amigão!