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CARTOLINA EM ALTA COM PROTESTOS

O GLOBO
Cartolinas usadas em protestos. Foto: Ilhéus 24h.
Cartolinas usadas em protestos. Foto: Ilhéus 24h.
Irreverentes, coloridos e politizados, eles estão por toda parte e mostram a diversidade das reivindicações dos manifestantes que invadiram as ruas nos últimos dias. E, mesmo em tempos de softwares de diagramação e impressoras de alta qualidade, são as cartolinas, com mensagens escritas a guache e hidrocor, que expressam os anseios da multidão. Se antes os partidos políticos produziam grandes faixas e bandeiras, hoje os manifestantes preferem adotar seu próprio discurso.
Para a designer e pós-doutoranda da Escola Superior de Desenho Industrial (Esdi) Barbara Szaniecki, autora do livro “A estética da multidão” (Civilização Brasileira), a pulverização de lideranças nas manifestações atuais se traduz nos cartazes.
— Os cartazes podem ser interpretados como um revival das ondas do it yourself (faça você mesmo) de hippies ou punks. Essa customização tem uma relação direta com as novas possibilidades políticas, da busca de uma política menos representativa e mais direta — afirma Barbara, que chama a atenção para o humor das mensagens e para a apropriação de slogans publicitários.

Diretora da Associação Metropolitana dos Estudantes (Ames) na época do impeachment do presidente Fernando Collor, a fotógrafa Alessandra Hamdan, de 37 anos, diz que o cenário mudou. Se os caras-pintadas tinham faixas e bandeiras prontas, desta vez ela mesma confeccionou os cartazes com as filhas. E assegura que as redes sociais estimularam a proliferação das cartolinas.
— Na época dos caras-pintadas, recebíamos o material pronto — lembra. — O cartaz hoje veio para dar voz às pessoas. E, sendo compartilhado pelo Facebook, acabou dando mais estímulo aos protestos.
A Faculdade Nacional de Direito, da UFRJ, no Centro, virou uma grande oficina de artes. Estudantes ajudaram os manifestantes a prepararem o material.
— Por sermos estudantes e não termos muito dinheiro, sempre fizemos a maioria das coisas à mão — explica Ingrid Figueiredo, de 19 anos, diretora de imprensa do Caco.
Na papelaria Caçula, a venda de cartolinas cresceu. Na filial de São Cristóvão, pulou da média habitual de 28 mil para 35 mil folhas. Já a tinta guache foi de 3.800 para 4.500. Dono da gráfica Maracanã, o jornalista Gustavo Verneque deu uma mãozinha, oferecendo cartazes em PB de graça e imprimindo coloridos a R$ 1. Já entregou 1.500 cartazes em PB e 232 coloridos.