ILHÉUS 24H :: Porque a notícia não para. Porque a notícia não para

CASOS DE HIV EM PESSOAS DE 15 A 24 ANOS AUMENTARAM 700% NOS ÚLTIMOS 10 ANOS

Casos de HIV aumentaram 700% em 10 anos entre jovens.

Entre 2007 e 2017, a notificação de casos de HIV de pessoas com 15 a 24 anos aumentou aproximadamente 700%. Muitos especialistas e ativistas acreditam que há certo moralismo por trás dessa explosão de ocorrências.

— O jovem não usa mais camisinha, mas o discurso não deve ser restrito a isso. É fato que as campanhas e o debate têm sido silenciados por forças conservadoras — diz Salvador Corrêa, que recebeu o diagnóstico de HIV aos 27 anos, passou a escrever sobre o isolamento social que viveu depois disso e reuniu seus textos no e-book “O segundo armário”.

Diretor-presidente da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia), Richard Parker acredita que o país vive uma epidemia de HIV. Nos últimos anos, campanhas voltadas para os públicos mais vulneráveis à infecção pelo vírus, como transexuais e profissionais do sexo, provocaram protestos entre setores da sociedade.

— Não considero que as pessoas perderam medo, mas sim acesso à informação — avalia. — Desde 2012, as campanhas são cada vez menos explícitas e não direcionadas ao público que mais precisa de esclarecimentos.

Parker alerta que o panorama pode piorar este ano. A duas semanas do carnaval, o site do departamento do Ministério da Saúde responsável pela prevenção e controle de HIV/Aids não cita as ações especiais previstas para o feriado.

— Os ministros falam sobre necessidade de se respeitar a família brasileira e deixar o debate sobre a educação sexual para os pais. É a receita para o desastre — condena ele. — Nos anos 1990 e 2000, havia grandes mobilizações, investimentos e programas nacionais constantes. Hoje, nega-se o debate público, não há iniciativas como o combate à homofobia nas escolas.

Para Marcio Villard, coordenador geral do Grupo pela Valorização, Integração e Dignidade do Doente de Aids (Pela Vidda), “um rapaz e uma moça de 16 ou 17 anos que se infectou não foi promíscuo nem relaxado”.

— No mundo em que vivemos, com tanta tecnologia e informação, às vezes um tema pode passar batido. Daí a necessidade de haver programas específicos para um público — sublinha. — A juventude não vivenciou o momento forte da epidemia, não tem percepção sobre o risco, não conhece métodos de prevenção, como a Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP). As escolas deixaram de falar sobre saúde e doenças sexualmente transmissíveis.

Antes um modelo internacional, ao promover gratuitamente a distribuição de drogas retrovirais no SUS, o Brasil vem perdendo prestígio na luta contra o HIV.

— Em todo o mundo, o número de casos caiu 11%, segundo um relatório do Programa das Nações Unidas sobre HIV/Aids de 2017. No Brasil, cresceu 3% — lamenta Villard. — A sociedade voltou a ter a percepção de que HIV é coisa de gay, prostituta e drogado.

FONTE: O GLOBO