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EMERGIMOS COMO BICHOS-DE-PÉ NOS DEDOS DOS EUA E DA EUROPA

RUI DAHER/ CARTA CAPITAL
Dilma e Fidel, em Havana.
Dilma e Fidel, em Havana.
O caríssimo leitorado, por certo, tem-se esfalfado conjuminando sobre os motivos que levam jovens da periferia a se reunirem nos shoppings da cidade. Como se o fato fosse inédito e pudesse tirar as ciências sociais da letargia pós-embasbacamento com a queda do Muro de Berlim.
Somem-se a isso as multidões que irão impedir a realização da Copa do Mundo e certo neoambientalismo, que sugere brecar o crescimento mesmo em populações divididas entre miseráveis, remediados e ativistas da hipocrisia. Ricos, estes, sempre crescerão.
É justo, pois, impedir pobres de aquisições que durante séculos foram privilégio de poucos no planeta? Ou o rótulo emergente basta para a satisfação? Sim, emergimos. Como bichos-de-pé nos dedos de EUA e Europa.
Reconheço que a comunicação digital e as redes sociais trouxeram tempos árduos a quem deseja aprofundar o conhecimento. É muita informação. Poderia fazer desta coluna um refresco, anunciando estarmos próximos de ter cebolas longa vida, adensar o plantio de algodão e plantar canola como alternativa ao milho safrinha. Temas leves e da minha alçada.
Creio, no entanto, que assim não recolheria dedinhos de recomendação nem os louros de abundantes comentários. O brasileiro internáutico está mais para polêmicas do que para polímeros recobrindo sementes.
Vamos, então, de Cuba, motivo frequente de acirrados debates, ainda mais em semana presidencial e portuária na ilha do Caribe. Como dizia Caetano Veloso a Dona Canô: “Mamãe, eu quero ir a Cuba, quero ver a vida lá, e quero voltar”.
Na ditadura dos Castro todo mundo come. E não são criancinhas. Dezesseis países cumpriram a meta estipulada pela FAO, em 1996, de erradicar a fome. Cuba foi um deles. Apesar do embargo norte-americano e dos editoriais em nossas folhas e telas cotidianas.
Além das pouco contestadas conquistas em saúde e educação, lá a má nutrição não atinge 5% da população. Pouca vantagem nisso, dirão. O povo quer mesmo é votar, no que tem sido impedido pelo regime. Ainda assim a notícia é boa. Vai que um dia, bem alimentados, recolham forças para derrubá-lo.
A ilha caribenha tem aproximadamente 11 milhões de hectares. Segundo a FAO, planta em 60% da área. Baita monocultura. A cana-de-açúcar representa 90% da produção física. O saldo é preenchido com frutas e bom tabaco. A exportação de “puros” beira  200 milhões de dólares. Entre as frutas, destaca-se o grapefruit. Talvez na esperança da volta do turismo norte-americano.
Em 2012, o valor da produção dos 20 principais produtos agropecuários cubanos chegou a pouco mais de 2 bilhões de dólares. Na última safra, com o mesmo número de produtos, o Brasil atingiu 180 bilhões de dólares. Tá provado que tamanho é, sim, documento. Tecnologia, também.
Cuba exporta pouco. Cerca de 750 milhões de dólares anuais. Mas isso representa 30% do total caribenho, região que não está bloqueada. Em um item, porém, Cuba é líder: exportação de falatório.
Do lado da importação, trigo, milho, soja e frango representam 90%, itens que acrescidos de açúcar, arroz, suco de laranja, café e carnes bovina e suína formam o perfil do comércio mundial de produtos agropecuários. Daí sua predominância no Brasil.
Não há muita firula tecnológica na agricultura cubana. Quando os russos por lá estiveram pouco entendiam do serviço em áreas tropicais. Hoje em dia, o Brasil, através da Embrapa e de empresas do setor sucroenergético, vem tratando do assunto. Enquanto aqui a produtividade da cana-de-açúcar, na última safra, foi de 75 toneladas/hectare, em Cuba, ela não passa de 35 t/ha.
O embargo dos EUA a Cuba vem desde 1962. Em março de 2015, no Panamá, será realizada uma nova Cúpula das Américas. Não será a hora, presidente Obama?
Mais um minuto da sua atenção. Assim como o tomate frequentou o pescoço e arrepiou os cabelos de apresentadora da TV Globo, e agora é cogitado de importação pela Argentina para ajudar a conter a inflação, o feijão, que já assombrou os semblantes de William e Patrícia, tem os preços em queda livre. Produtores não recebem mais do que 65 reais pela saca de 60 kg do produto de boa qualidade. Nos olhos dos outros não arde, certo?