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HISTÓRICO ATO INDÍGENA: XXIII CAMINHADA TUPINAMBÁ EM OLIVENÇA REACENDE MEMÓRIA E LUTA

A história de resistência e perseverança do Povo Tupinambá de Olivença, na Bahia, ganha destaque com a XXIII Caminhada Tupinambá em Memória dos Mártires do Massacre do Rio Cururupe, um evento de significativa importância histórica e cultural.

Sob a liderança da Cacique Maria Valdelice Jamopoty e de outras lideranças, a comunidade visa manter viva a memória dos trágicos acontecimentos de 1559, quando o então Governador Geral da Bahia, Mem de Sá, perpetrava um massacre indígena implacável em sua jornada de Salvador a Olivença.

Durante esse massacre, corpos de Tupinambás foram cruelmente empilhados ao longo de um percurso que se estendeu por 9 quilômetros, deixando uma lembrança dolorosa que ecoa nas almas dos Tupinambás até hoje. A Caminhada não apenas presta homenagem aos que perderam suas vidas, mas também serve como um poderoso lembrete da luta contínua por justiça e reconhecimento.

A data da Caminhada está marcada para 24 de setembro de 2023, e ela se estende além da homenagem aos mártires do massacre do Cururupe. Também é uma ocasião para celebrar a memória e o legado de Caboclo Marcelino, um grande líder que defendeu incansavelmente o povo Tupinambá contra a ganância dos coronéis do cacau nas décadas de 1930.

Para tornar o evento possível, a comunidade Tupinambá de Olivença busca recursos financeiros que serão direcionados para suprir as necessidades de alimentação, compra de água, lanches e combustível, atendendo a uma média de três mil pessoas que participarão dessa importante jornada histórica. Toda forma de ajuda é bem-vinda e fundamental para a continuação dessa resistência.

Em uma entrevista exclusiva concedida ao site Ilhéus 24h, a Cacique Valdelice compartilhou sua perspectiva sobre a importância da Caminhada na preservação da memória e na conscientização sobre a história do povo Tupinambá:

“Sou a Cacique Valdelice, do povo Tupinambá de Olivença, a primeira cacique-mulher da Bahia, a segunda do Brasil, e a caminhada começou a gente fazer essa homenagem em 2000. Porque a gente tenta reviver esse momento que é tão importante, não só reviver, mas memorizar nas nossas memórias, nas memórias dos jovens, que essa história não acabou, que o massacre ainda não só foi aquele, vai ser sempre um massacre.”

Valdelice também abordou os desafios enfrentados pela comunidade na organização da Caminhada e a importância da colaboração da sociedade:

“Agora, nós temos muita burocracia. As burocracias não deixam a gente avançar, não deixam a gente chegar até aquele objetivo que é a caminhada. Então, através das associações, a gente faz os plantios para a finalidade da caminhada. Mas a gente não consegue, infelizmente ou felizmente. Vamos estar precisando da sociedade para fazer a diferença no sentido do apoio.”

Nossa reportagem também conversou com Jade Alcântara, doutoranda em antropologia, pesquisadora, escritora e também do povo Tupinambá. Jade enfatizou a relevância de eventos como a Caminhada para a preservação da cultura e história dos povos originários:
“O povo Tupinambá é um povo de muita luta, de muita trajetória, e um povo muito guerreiro. Nós temos a honra de ter uma das primeiras mulheres cacicas do Brasil, que foi a primeira cacique do povo Tupinambá de Olivença, que é a cacique geral, a cacique Maria Valdelice. Essa luta surgiu pela educação do povo, pensando em reunir a comunidade que já sabia que era indígena, mas por muito tempo teve que ficar calada devido ao avanço do processo colonial e mais tarde ao avanço da construção do que a cidade de Ilhéus entendeu como progresso.”

Jade também abordou a complexidade da identidade Tupinambá e a importância de reconhecer a diversidade e a riqueza cultural desses povos:

“Nós temos esse mar lindo, uma das maiores faixas litorâneas de todo o Nordeste. E a identidade desse povo que está aqui está ligada diretamente ao mar. Mas essa produção cognitiva dos sentidos foi rompida, porque as pessoas não fazem essa leitura, como uma identidade tradicional que existia aqui, que vivia toda a sua produção, toda a sua vida em função do mar.”

Em resumo, o ato representa não apenas uma homenagem aos que sofreram no passado, mas também um apelo à sociedade para reconhecer e apoie a luta contínua do Povo Tupinambá por justiça, reconhecimento e preservação de sua cultura e história.

A caminhada é um lembrete poderoso de que a resistência indígena persiste e que é necessário ouvir e apoiar essas comunidades na busca por seus direitos e na preservação de sua identidade.