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“TER FILHO GAY É FALTA DE PORRADA”, DIZ BOLSONARO (PP)

PRAGMATISMO POLÍTICO
O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) reverbera na mídia um discurso presente em nossa cândida sociedade de que ter filho gay é consequência de falta porrada durante a infância. Pois bem, nesta quarta-feira veio à baila a crueldade cometida por um pai que seguiu este ensinamento. Alex Moraes Soeiro, 34 anos, morador da comunidade de Villa Kennedy, zona oeste do Rio, jogou toda sua força contra o filho de oito anos, espancando-o até a morte. Motivo: o garoto gostava de lavar louça e não queria cortar o cabelo (veja aqui).
O preso disse que espancava o menino para “ensiná-lo a virar homem”, porque, segundo o pai, o garoto gostava de dança do ventre, tinha o hábito de vestir as roupas das irmãs e gostava de lavar louça. Levado à UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da região, o menino faleceu horas depois após sofrer hemorragia interna em razão do espancamento.
De acordo com a Secretaria Nacional de Direitos Humanos, a grande maioria das denúncias de homofobia recebidas pelo Disque 100 (em 2011 foram quase 7 mil) são de violências sofrida por gays dentro de casa, 42%.
Casos de barbárie como o ocorrido em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul. Um pecuarista espancou o próprio filho homossexual em julho do ano passado (relembre aqui). O rapaz de 16 anos ainda foi ameaçado pelo pai de ser arrastado pelas ruas da cidade. O jovem chegou a ter as pernas amarradas a uma caminhonete. O produtor rural, que não teve o nome revelado, foi indiciado por injúria e tortura.
Tem um pensamento repetido por homossexuais que resume bem o desamparo de crianças e adolescentes LGBTs. Uma criança negra que sofre racismo na escola, volta para casa e encontra o abraço da mãe, mas uma criança gay que sofre homofobia na escola, volta para casa e está sozinha.
Para muitos, o nível de violência homofóbica chega ao nível do insuportável . Uma pesquisa divulgada na publicação científica Pediatrics mostra que crianças LGBTs rejeitadas pelos pais correm seis vezes mais riscos de sofrer com altos níveis de depressão e tentam o suicídio oito vezes mais na comparação com heterossexuais de mesma faixa etária.
Bolsonaro virou uma caricatura de si mesmo. Suas aparições em programas de televisão popularescos como Superpop e etc são usadas apenas para levar humor ao telespectador no final da noite.
Mas ainda tem muita gente que o leva a ferro e fogo. Muita mesmo. Em 2010, foi eleito com 120 mil votos. Provavelmente sua votação deve ser ainda mais expressiva na próxima eleição, pela mídia que conseguiu nos últimos quatro anos e por ir ao encontro do pensamento de gente reacionária.
E o deputado vai dizer o quê? Que não estava falando em morte quando se referia a “levar um couro”? Ok, deputado. Mas esse pai provavelmente não tinha a intenção de matar o filho. Mas e agora? Alguém vai devolver a vida a esse garoto?
Vossa Excelência vai poder abraçar os seus filhos, os mesmos que repetem o seu discurso de ódio a gays quando voltar para casa. Porém, esse garoto não tem mais o direito ao abraço de ninguém.
Até quando continuaremos produzindo novos “Alex” e novos filhos mortos por seus pais? Até quando pais vão continuar mais se importando se o filho ou filha brinca de carrinho ou de boneca do que com o caráter? Os pais precisam perceber a desgraça que promovem na cabeça das crianças quando tentam impor a orientação sexual ou identidade de gênero, que, comprovada cientificamente por centenas de estudos, é algo com base genética. Os dados sobre depressão e suicídio são claros. O seu filho não vai deixar de ser homossexual, bissexual ou transexual porque você quer. Não vai! Parem de torturá-los!
Até quando o poder público federal vai continuar assistindo de braços cruzados a violência homofóbica cotidiana em nosso país. Lamentar morte depois do ocorrido é muito pouco diante de tanto sofrimento.
A homofobia mata e precisa ser tratada com políticas públicas que promovam o esclarecimento à população desde nossas crianças até a vida adulta. E ninguém está falando de propaganda de orientação sexual, dona Dilma, estamos falando de educação.